NOSSO CAMINHO DE SANTIAGO- do 1 ao 10 dia







1o.dia - De Roncesvalles até Zubiri - 21,5 Km

Nesta primeira noite, no container, meu marido dormiu, mas eu não dormi nada. Havia um rapaz que roncava muito. Às 5h30 levantamos, nos preparamos e com certa ansiedade, saímos no escuro para nosso primeiro dia no Caminho.

Não tínhamos ideia do quão mágico seria nossa jornada. Durante todo o Caminho ainda cruzamos com algumas das pessoas que estavam no mesmo container. A alegria dos reencontros sempre foi uma das emoções mais gratificantes que tivemos! Cría-se uma fraternidade entre os peregrinos, mesmo com aqueles que não trocamos uma só palavra, bastava apenas o olhar e reconhecê-los.

O Caminho é muito lindo, você passa por vales e montanhas e por bonitos pueblos com serviços: bares com banheiros em boas condições.

No Caminho Francês você  atravessa algumas Comunidades Autônomas (tipo nossos Estados). No início estávamos em Navarra, que na nossa opinião, é a região mais bela e que oferece mais serviços.



Caminho Roncesvalles a Zubiri
Caminho Roncesvalles a Zubiri
Caminho Roncesvalles a Zubiri
Caminho Roncesvalles a Zubiri - As frutas surgem no Caminho.
Saboreamos muitas frutas (amoras, uvas, maçãs e figos) que estavam ao longo das trilhas e nesta época estão em ponto de consumo.

Chegamos bem cansados a Zubiri neste primeiro dia. Paramos em um albergue que já estava lotado e um pouco mais adiante encontramos a Pensão USOA (Calle Puente la Rabia,4 - e.mail: pensionusoa@hotmail.com). A dona é muito simpática, ficamos em um quarto pequeno com banheiro. Tudo limpo, pudemos usar a cozinha e a máquina de lavar roupa por 34 Euros. Gastamos 8 Euros no mercado e o marido fez um almoço bem gostoso. Ficamos dentro do orçamento.

Pequeno quarto da Pensão USOA - Zubiri
Zubiri é uma graça. Quando chegamos estava sol e algumas pessoas estavam se refrescando no rio.

Puente de La Rabia - Zubiri


2o. dia - De Zubiri  até Cizur Menor- 25,4 Km

Dormimos tão bem que perdemos o horário, saímos às 7h30. O Caminho continuou lindo, passamos por bosques, rios e fez muito calor. 

Caminho de Zubiri a Cizur Menor
Caminho de Zubiri a Cizur Menor - delícia de "café con leche y tortilla"
Caminho de Zubiri a Cizur Menor
Caminho de Zubiri a Cizur Menor
Caminho de Zubiri a Cizur Menor
Hora do lanche com caña

As pessoas têm menor desnível social e vivem com muito mais qualidade de vida. Os rios são limpos, mesmo nas cidades maiores, com peixes, aves e pessoas nadando. Raramente nós vimos lixos nas ruas, ao contrário, há muitas lixeiras e o hábito da separação do lixo reciclável. 

É muito gostoso ver as pessoas nas ruas, praças e bares, em geral bem movimentados.

No Caminho meu marido pegou um despretencioso galho de árvore para usar como apoio e acabou sendo seu cajado por todo o Caminho. Ele foi lixando o bastão com as pedras do Caminho e o trouxe conosco para o Brasil. 

Cruzamos Pamplona sob um sol de rachar e como já havíamos visitado, decidimos ir direto para Cizur Menor que fica 5 Km de Pamplona. 

Crianças se divertindo nos caiques - Pamplona
Pamplona

Cizur Menor é um lugar bem pequeno, tipo condomínio de casas com um clube.

Ficamos no Albergue Maribel (10 Euros por pessoa). Eu não gostei nem do albergue e muito menos da dona que não acolhe e só faz negócio. Não dormi bem e não me senti à vontade em um quarto com 9 homens e eu sendo a única mulher.  


3o. dia - De Cizur Menor até Puente La Reina- 19 Km

Saímos às 6h30, iniciamos o Caminho no escuro e sob uma lua enorme que nos acompanhou, foi lindo! Passamos por uma plantação de girassóis que estavam aguardando a luz do sol e por encantadores pueblos. Aqui e ali antigas construções de pedras, a maioria abandonadas. Cenário de filme!

Caminho de Cizur Menor à Puente La Reina

Amanhaceu e o sol mostrou para o que veio, muito calor.

Subimos bastante até Alto del Perdón, um espigão com muitos cataventos para geração de energia eólica. Pena que não aproveitamos tão bem esse recurso natural em nosso país.

No topo do espigão encontramos um monumento aos peregrinos: "Donde se cruza el camino del viento con el de las estrellas" disse o artista.

A subida foi íngreme, mas a parte que achamos mais difícil foi descer pelas pedras, fizemos devagar e com todo cuidado, qualquer discuido uma torção. Difícil e perigoso!

Alto del Perdón
Caminho de Cizur Menor à Puente La Reina
Quando chegamos ao pueblo Óbanos, por volta das 12h, sob um sol do Saara, uma jovem estava oferecendo uma maravilhosa limonada geladinha aos peregrinos. Um gesto tão simples que nos deu folego para prosseguir. Podemos estar apelando, mas foi a limonada mais saborosa que tomamos: uma benção!

O pueblo estava iniciando os festejos do término das férias em frente à igreja com alguns bonecos gigantes (tipo de Olinda). O padre veio nos cumprimentar e perguntou de onde éramos,  abriu um largo sorriso quando dissemos ser brasileiros. Assistimos um pouco da festa e seguimos para nosso destino debaixo de sol forte. 

Óbanos
Ao entrar em Puente La Reina vimos outra festa. Que alegria!

Procuramos por um albergue e fomos muito bem recebidos pela querida Suzana do Albergue Puente. Quartos claros, ventilados e limpos.(12 Euros por pessoa)

Albergue Puente
Pela primeira vez comemos o Menu do Peregrino, a comida estava divina. e o atendimento excelente. - Bar Zenon

Marido matando saudades do café con hielo

Puente La Reina delícia de cidade e para nossa felicidade também estava em festa.

Puente La Reina
Puente La Reina
Puente La Reina
À noite, fomos presenteados com uma apresentação de jazz ao lado do Rio Arga na Puente La Reina. E ainda serviram bocadillos com vinho. Ficamos apaixonados por esta cidade. Viva o Caminho!

Dormimos muito bem, apesar de meu marido ficar um pouco incomodado com os sinos da igreja próxima que tocava a cada 15 minutos.

Bocadillos e vinho na apresentação de jazz - Puente La Reina

4o. dia - De Puente La Reina até  Estella- 22 Km

Partimos de Puente La Reina com saudades, foi uma das cidades que mais gostamos. Saímos às 6h50 com uma bela lua. Novamente passamos por lindos pueblos. 

Caminho de Puente La Reina à Estella
Paramos em Lorca para tomarmos um delicioso "café con leche". Sentamos em um degrau e neste momento senti muita gratidão por estar vivenciando tudo isto.

Lorca
Caminho de Puente La Reina à Estella

Chegamos à Estella por volta das 13h, após um longo trecho de subida quando testamos nossa condição física. Meu marido estava tentando controlar duas bolhas. 

Era um domingo sem graça como em qualquer lugar *r*. Estella é uma grande e turística cidade, pelo menos foi a maior até então. No percurso continuamos cruzando com os peregrinos que vimos em Roncesvalles.

Ficamos no Hostal Cristina (Calle Baja Navarra, 1, 1o.) que custou 40 Euros, hospedagem simples e limpa, com internet  instável. Dona Cristina (mais de 80 anos) é um amor e nos recebeu muito bem.

Exceto os restaurantes, tudo estava fechado. Almoçamos no Bar Maracaibo, Menu do Peregrino (10 Euros), bom.

Só brindando a vida!

Estella
Estella
Estava muito calor e à noite ficamos sentados na praça só observando o movimento. É impressionante como as pessoas saem bem arrumadas para ficar nos bares. São bem elegantes. Os idosos estão sempre presentes e aproveitam bem a vida.


5o. dia -  Estella até Los Arcos- 21,2 Km

À noite choveu muito, mas pela manhã parou. 31 de Agosto: Aniversário do marido, saímos um pouco mais tarde 7h30. 

No Caminho passamos pela Bodega Irache onde os peregrinos podem tomar o vinho que sai de uma torneira do lado de fora da bodega. Muita gente, mesmo pela manhã acaba tomando um pouco e outros enchem seus cantis para tomar durante o caminho. Naturalmente, a qualidade do vinho não deve ser das melhores, mas quem tomou não reclamou.

Caminho de Estella a Los Arcos
A região é bem bonita e num determinado ponto o Caminho se divide. Fomos aconselhados por um senhor espanhol que passava para seguir pelo mais longo, pois tinha a melhor vista. Mesmo assim caminhamos quase 3 horas sem passar por nenhuma cidade. 

Neste dia conhecemos o casal de brasileiros Cris e o Rogério, conversamos muito e nem percebemos a dureza do Caminho. É muito interessante como nos aproximamos das pessoas, contamos nossas histórias, elas as delas e tudo parece uma agradável terapia.

Caminho de Estella a Los Arcos
Caminho de Estella a Los Arcos
Chegamos em Los Arcos às 13h30, um lugar pequeno e sem graça. Ficamos no Albergue Casa de la Abuela que é bem pequeno, estava muito cheio e só tem 2 banheiros e 3 duchas para homens e mulheres.A dona foi muito atenciosa. (10 Euros por pessoa).

Albergue Casa de la Abuela - Los Arcos

O Caminho é tão lindo, mas acabamos ficando em um pueblo sem charme no dia do aniversário do meu marido. Além disso, choveu muito após nossa chegada.

Los Arcos
Iglesia Santa Maria - Los Arcos

Fomos ao Bar dos Jubilados (pode isto? kkk) para jantar paella e comemorar o aniver. O dono, Sr. Álvaro, nos atendeu muito bem, apesar de não entendermos nada do que ele falava, tinha um carregado sotaque basco. A paella estava mais ou menos e custou bem caro, mas o vinho da região estava ótimo! 

Comemorando o niver do Re no Bar dos Jubilados - Los Arcos

A dona do albergue me deu uma velinha, comprei um bolinho e cantamos parabéns.

Parabéns para o marido no Albergue Casa de la Abuella - Los Arcos

6o. dia -   Los Arcos até Viana- 18,3 Km

Dia nublado e decidimos caminhar somente até Viana que é um encantador pueblo e último da lindíssima Navarra. Passamos por vales, montanhas e um bom trecho sem cruzar nenhuma cidade. Apesar dos muitos peregrinos pelo Caminho, o dia cinza traz uma certa angústia.

Caminho Los Arcos a Viana
Caminho Los Arcos a Viana

Neste trecho cruzamos várias vinícolas e plantações de oliveiras.

Encontramos uma figueira na estrada e meu marido achou que poderia pegar alguns figos, mas foi surpreendido por uma senhora, que surgiu não sei de onde, rosnando e dizendo que os figos eram dela!!! Mas no final nos deixou pegar alguns. Os figos eram verdes por fora mas maduros por dentro. Uma delícia!

As bolhas do pé do meu marido estavam piores e para evitar a dor pisava errado. Sabemos que isto poderia trazer problemas futuros, como uma tendinite. Como ele é forte, quis prosseguir.  Coisas de menino!

Nas proximidades de Viana pegamos um panfletinho indicando hospendagem e por 25 Euros alugamos um simples apartamento que nos atendeu muito bem, além de podermos utilizar a cozinha para fazermos nossas refeições.
Apto - Calle Rueda, 46 Fone: 948645149/Movil 646923398 - O proprietário é muito simpático.

Meu marido preparou um espagueti ao molho de polvo e tomate. Ficou muito bom!

Quarto do apartamento
Assistimos à missa dos peregrinos das 20 h e foi muito emocionante, pois o padre  chamou os peregrinos para uma benção especial. Conversou conosco e nos explicou que o significado de Ultreia é Ânimo, Coragem, Força para estimular o peregrino.

Viana               
Viana

7o. dia -  Viana até Ventosa  28,9 Km

Saímos cedo de Viana e caminhamos muito no escuro com lanternas, céu nublado e com receio da chuva. Nosso destino era Navarrete, porém, com a temperatura amena e nossa boa disposição, decidimos seguir até Ventosa e ganhar um precioso tempo.

A sinalização não era boa e tivemos que prestar muito atenção para não errar o Caminho. 

Cruzamos Logroño que é a primeira cidade da Comunidad Autonoma La Rioja, região famosa pelo excelente vinho. Oba!!!!! 

Logroño


Logroño

Na saída de Logroño caminhamos muito por um belo parque, mas, apesar disso, foi um trecho bem chato.



Para chegar a Ventosa passamos por Navarrete, onde a nave do altar da igreja é decorada em ouro e a fachada lembrou para o meu marido o filme Caçadores da Arca Perdida.

Igreja Navarrete

No Caminho muitas frutas: uvas, maças, figos, peras e amoras que nascem como mato.



Paramos em Ventosa, pois estávamos cansados, a região é bem rural e não tem nada. O Albergue San Saturnino é muito bom e conseguimos os últimos lugares. (10 Euros por pessoa). Este pueblo, como tantos outros, de tão pequeno, na mesma placa de bem-vindo também está escrito volte sempre.

Aqui fizemos mais amizades: O casal de alemães Marcus e Kathrin, a americana Rachel e o alemão Karlston.

Amigo alemão Karlston

Casal querido Katrin e Marcus

Às 6h, a hospitaleira (pessoa que cuida do albergue) coloca um canto gregoriano bem alto para acordar os peregrinos. Achamos bem bonito, pois já estávamos prontos para sair.


8o. dia -  Ventosa até Santo Domingo de La Calzada -  31,2 Km

Levantamos muito cedo, antes do canto gregoriano. Saímos às 6h, caminhamos no escuro, com garoa e frio. A sinalização é péssima, mas não erramos. Santas lanternas! E estreia dos ponchos!

modelito chuva

Após 2h30 de caminhada, chegamos à Nájera, tomamos o "delicioso café con leche" e seguimos. 

Nájera
Azofra
Chegando a Santo Domingo de La Calzada
Este trecho é bem longo e monótono passando por extensos vinhedos, afinal é Rioja. Chegamos em Santo Domingo de La Calzada exaustos, caminhamos muito rápido para fugir da chuva. 

Encontramos o Hostal R.PedroI que foi um alívio. Quarto charmoso, lençóis macios e cheirosos, uma ducha maravilhosa. Tudo isto tem um preço, saiu do orçamento, mas valeu cada centavo. Negociamos muito para pagarmos 50 Euros.

Hostal  R.Pedro I

Santo Domingo de La Calzada é muito bonita, mas estava bem frio e aproveitamos para descansar.

Santo Domingo de La Calzada

Jantamos no Restaurante Hidalgo - Menu do Peregrino chique (12 Euros). Comida e atendimento excelentes.

Restaurante Hidalgo

9o. dia - Santo Domingo de La Calzada até Belorado -  22,7 Km

No Caminho encontramos nossas amigas Viviane, Mary e Claudia e fomos conversando, o que amenizou outro trecho bem monótono. 

No primeiro pueblo paramos para tomar "café con leche" e fomos abordados pelo Rui, um peregrino português que encontrou um isolante térmico e casualmente, veio perguntar se não era de um de nós! Foi aí que percebemos que era o que eu estava levando e tinha caído da minha mochila, no entanto, já tínhamos decidido deixa-lo pelo Caminho, mas não dessa forma!. 

Durante a conversa com as amigas ficamos sabendo que a Viviane faz yoga e estava justamente precisando de uma almofadinha. Pronto! Meu isolante teve um destino melhor, ficou de presente pra Viviane que o usou muito durante o Caminho. Coisas do Caminho!

Caminho de Santo Domingo de La Calzada a Belorado
Caminho de Santo Domingo de La Calzada a Belorado
Para nossa alegria chegamos a Belorado em um dia de festa, com procissão, show e baile. Nos divertimos muito!

Saímos da Comunidad Autonoma de Rioja e entramos na de Castilla y León.

Belorado
Belorado
Nos hospedamos no Albergue Peregrino Caminante (6 Euros por pessoa), é bem simples, mas estava vazio. A dona é muito simpática. Fica ao lado de uma discoteca e como era sábado, rolou barulho a noite toda. Estávamos tão cansados que dormimos sem nos incomodar.

Albergue - Belorado
Belorado
Peregrinos na balada em Belorado

 10o. dia - Belorado até Agés -  27,4 Km

O Caminho foi difícil com muita subida e um pouco chato. Paramos diversas vezes para descansar.

Apesar dos cuidados a tendinite do meu marido veio com força! Muito sofrimento amenizado com antiinflamatório, reza e ajuda espiritual. 

Outra força foi o reencontro com muitos dos peregrinos que temos cruzado. A cada reencontro os votos de melhoras ajudaram muito!

Caminho de Belorado a Agés
Caminho de Belorado a Agés
Até dormi um pouco na sombra
San Juan de Ortega
Em Agés nos hospedamos no Albergue El Pajar (9 Euros por pessoa) é bem simples, são oito pessoas no quarto, o banheiro é bom. Dormimos muito bem. Jantamos no próprio albergue junto com outros peregrinos amigos. O dono é muito simpático e nos divertimos bastante. Agés não tem nada. É parar, descansar, tratar as bolhas e tendinite.

Dica - Atapuerca que é o próximo pueblo, achamos que é melhor para ficar. Tem uma padaria que chama Las Cuevas e é boa.

2 comentários

  1. Muito massa esse passeio fiquei impressionado com a disposição de vocês. parabéns.

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    1. Marco realmente o Caminho de Santiago de Compostela é mágico!
      Abraços

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