Caminho Agés a Burgos |
11o.dia - De Agés até Burgos - 23 Km
Saímos às 7h, com muito frio e neblina. Meu marido achou que tinha deixado sua bandana no albergue e voltou pra tentar achar, mas sem sucesso. Descobriu depois que tinha ficado dentro do saco de dormir! Coisas da correria para evitar o sol escaldante.
Paramos em Atapuerca na padaria Las Cuevas para tomar um café e gostamos muito.
Atapuerca e Cardeñuela-Riopico são mais bonitos que Agés, além disso, são sítios arqueológicos da ocupação humana na Europa com vestígios do Homo Sapiens.
Amanheceu e o sol veio com tudo num céu azul incrível!
As dores do pé do meu marido amenizaram, porém passamos a andar mais devagar.
Após uma longa subida chega-se a uma cruz de madeira no topo do morro com uma vista cinematográfica de Burgos, mas que ainda está distante uns 16 Km.
Quando estávamos chegando a Burgos, coloquei a mão no pescoço e senti que meu pingente Agnus Dei que tanto amava, não estava mais na corrente. Não lembro de quem ganhei, mas tinha um carinho enorme. Não sou ligada a "coisas", mas senti muito a perda deste pingente e chorei sentida. Logo surgiu o desejo que o pingente fosse encontrado, cuidado e que a pessoa tenha sempre Jesus no coração. Foi o meu presente para o Caminho.
Ao entrar em Burgos, você cruza um imenso parque. Uma senhora nos cumprimentou e perguntou de onde éramos, olhou nos nossos olhos e agradeceu por estarmos fazendo o Caminho, me emocionei e ela me deu dois beijos. Chorei muito, me senti amparada e confortada com aquela atitude!
Burgos é uma linda cidade, merece pelo menos dois dias para ser visitada.
Nos hospedamos no Hostal Lar que tem uma simpática e agradável recepção, porém o quarto é muito simples. Diária 39 Euros.
Devido a tendinite o Rê passou a tarde repousando e colocando gelo na perna. Eu saí para conhecer um pouco da cidade.
Burgos |
Burgos |
Burgos |
Cerveceria Morito |
Cerveceria Morito |
No dia seguinte, acordamos mais tarde, o Rê colocou mais gelo na perna, tomamos um delicioso café da manhã e partimos. Decidimos parar na linda catedral. Como peregrinos tivemos 50% de desconto (3,50 Euros). É linda! Vale a visita.
Burgos |
12o.dia - De Burgos até Tardajos- 10 Km
Seguimos nosso Caminho bem devagar, para poupar a perna do Rê.
No Caminho passamos pela Universidade de Burgos |
Caminhamos somente 10 Km, debaixo de um forte sol e decidimos parar em Tardajos.
Nos hospedamos no bonito Albergue La Fábrica (12 Euros por pessoa) e ótimo atendimento. Este albergue era um moinho de farinha que foi restaurado.
Excelente decisão, o Rê passou a tarde com gelo na perna e descansou.
Tivemos um excelente jantar no Albergue (menu do peregrino 10 Euros) na companhia de um casal (ele português e ela francesa) que voltavam de carro para Paris onde moram. Papo animado e sóbrio!
Albergue La Fábrica - Tardajos |
Albergue La Fábrica - Tardajos |
Descanso no Albergue La Fábrica em Tardajos |
13o.dia - De Tardajos até Hontanas- 21 Km
Saímos tarde, por volta 9h30, pois o Rê colocou mais gelo na perna. Se não melhorasse, iríamos para o médico. Caminhamos devagar e mesmo com dor ele preferiu seguir. Coisas de menino!
No Caminho, encontramos nossas queridas amigas Mary e Viviane. Não seguimos juntos, pois estávamos muito devagar.
Caminho de Tardajos a Hontanas |
Paramos para comer em Hornillos del Camino, um pueblo pequeno e simpático. Depois de descansarmos e o Rê colocar mais gelo na perna, decidimos prosseguir mais 11 Km por áridas paisagens. Por volta 16h chegamos em Hontanas.
Caminho de Tardajos a Hontanas |
Caminho de Tardajos a Hontanas |
Em Hontanas ficamos no Albergue Juan de Yepes (7 Euros por pessoa) é novo, bom e estava lotado.
Albergue Juan de Yepes |
Hontanas é um pequeno pueblo e aí encontramos muitos amigos queridos do Caminho.
14o.dia - De Hontanas até Itero la Vega- 20,3 Km
O albergue todo madrugou, foi um movimento só. Saímos às 6h50, frio e muito escuro. A lua estava minguando e a estrela Dalva majestosa.
Antes de chegar em Castrojeriz, passamos no Albergue Hospital dos Peregrinos de San Antón, é um lugar bem rústico sem luz e água quente, mas tem uma energia especial.
Hospital dos Peregrinos de San Antón |
Chegando a Castrojeriz, o labrador abaixo é o Diego que seguiu bravamente no Caminho. Aqui fica a Igreja Santa Maria Del Manzano, que é o nome da família da mãe do meu marido.
Passamos por Castrojeriz lugar lindinho que amei. Visitamos o Hospital das Almas, local de silêncio e contemplação. Fiquei encantada e emocionada. Não queria ir embora. Senti muita paz!
Hospital da Alma |
" Se juzgas a la gente no tienes tiempo para amarla."
Quando você sai de Castrojeriz, há uma subida íngreme na colina de Mostelares. Engatamos uma primeira e subimos rapidinho.
Como o pé do Rê estava melhor, seguimos até Itero de la Vega que é um pueblo que não tem nada.
Uma senhora chamada Blanca nos abordou na rua e perguntou se estávamos procurando o hostal dela. Dissemos que não sabíamos, então ela nos convidou a conhecer, a casa está aberta, se não gostarem, sigam seu caminho, estou indo à missa e na volta conversamos! Engraçado como as pessoas confiam nas outras neste Caminho!
Não tínhamos ideia de ficar neste lugar, mas surgiu outra bolha no pé do Rê. Entramos e gostamos da casa (12 Euros por pessoa), escolhemos o quarto e foi mais uma tarde de descanso e tratamento. Quando estamos muito tempo fora de casa, dormindo cada dia em um lugar diferente, é um presente encontrar uma casa, para chamar de sua *r*
"Coisas do Caminho", alguns anjos surgem e nos dão a direção. E foi a melhor decisão, pois no outro dia, o pé estava melhor.
Albergue El Hogar del Peregrino - Itero La Vega |
Ao lado da casa tem um mercadinho que é do marido da dona Blanca. Compramos mantimentos e o marido cozinhou.
Esse lugar também é muito sossegado, o maior agito foi o encontro de algumas senhoras e um senhor (acho que todas viúvas, aliás como tem viúva na Espanha!) que não paravam de falar de uma tal de Antonina! E nós só ouvindo e imaginando a história.
15o.dia - De Itero la Vega até Villalcázar de Sirga- 27 Km
Saímos às 7h e estava muito escuro! Foi difícil encontrar a seta amarela, mas não nos perdemos.
Caminhamos pelos campos e para mim foi uma das cenas mais lindas que presenciei. Eu caminhava, olhava para trás e uma forte luz nos acompanhava. Nem preciso dizer do quanto me emocionei. Como ficamos conectados com o Pai!
Caminho de Itero de la Vega a Frómista |
Caminho de Itero de la Vega a Frómista |
Boa parte caminhamos ao lado do lindo Canal de Castilla que atualmente irriga as plantações, mas é obra do Século XVIII para transportar grãos por balsas puxadas por animais, com uma eclusa de 14 metros de altura. Fantástico!
Canal Castilla |
Após 1h30 chegamos em Frómista, aí compramos remédio para os pés e descansamos um pouco.
Caminho de Frómista a Villalcázar de Sirga |
Para fugirmos da estrada, seguimos um caminho alternativo até Villalcázar de Sirga. Apesar das bolhas, a tendinite do marido melhorou o que nos possibilitou andar cerca de 4 km/hora! Muito bom!!
Caminho de Frómista a Villalcázar de Sirga |
A siesta é para todos: pastor, seu cão e para os lobos também!
Caminho de Frómista a Villalcázar de Sirga |
Villalcázar de Sirga é um pequeno pueblo com a linda igreja templária Santa María la Blanca do séc. XII e um restaurante muito chique. Paramos na porta do restaurante para solicitar informação e pela primeira vez me senti uma "mendigrina"*r* (mendiga com peregrina), as pessoas nos olharam com indiferença. Só estávamos cansados, mas não estávamos fedidos *r*
Igreja templária Santa María la Blanca |
Falta muito?*r* |
Nos hospedamos no Albergue Casa Rural Áurea (7 Euros por pessoa ) que tem atendimento super simpático da Juliete, porém o quarto é para 20 pessoas e banheiro/duchas para homens e mulheres juntos.
Passamos a tarde papeando com o querido casal alemão Kathrin e Marcus.
Dica: uns 5 km pra frente fica Carrión de Los Condes que é uma graça. Lamentamos não ter ficado nesta cidade.
16o.dia - De Villalcázar de Sirga até Ledigos- 29,2 Km
Saímos muito cedo com um amanhecer de tirar o folego, depois de uma noite de sinfonia de roncos! Tinha barítonos, sopranos, vários outros timbres e suas variações! Aff
Caminho de Villalcázar de Sirga a Carrión de los Condes |
Chegamos na linda Carrión de los Condes e tomamos café. Que lugar encantador! Como gostaríamos de ter ficado um dia por aí. Mas o Caminho é assim, você tem que escolher.
Carrión de los Condes |
Carrión de los Condes - roupas penduradas na mochila para secar |
Ao sair da cidade tivemos que encarar 17 Km em um retão bem chato. No início havia sombra, mas depois foi debaixo de sol forte, mesmo assim, seguimos muito bem e fizemos em um tempo menor do que esperávamos.
17 km difíceis depois de Carrión de Los Condes |
Passamos por Calzadilla de la Cueza e finalmente Lédigos.
Calzadilla de la Cueza |
Nos hospedamos no Albergue El Palomar em um quarto (12 Euros por pessoa). É bem simples, mas não recomendamos. Pela primeira vez fomos picados por algum inseto. Ainda bem que não somos alérgicos.
Dica: Fique no Albergue La Morena que é novo e charmoso. Ou você caminha mais uns 2.8 Km e fica em Terradillos de Templários.
Jantamos no restaurante do Albergue La Morena e foi excelente (Menu do Peregrino 10 Euros), além do ótimo vinho.
Albergue La Morena - Lédigos |
Restaurante do Albergue La Morena - Lédigos |
17o.dia - De Ledigos até Sahagún- 17 Km
Saímos cedo e passamos pelo Albergue Los Templários que nos pareceu ser muito bom.
Albergue Los Templários |
Caminho Ledigos a Sahagún |
Amigos Lourdes e Romeu |
Caminho Ledigos a Sahagún |
Neste trecho passamos por pueblos que tem construções sob a terra que serviam para armazenar vinhos e alimentos. Outras construções são de adobe, semelhantes às nossas de massapé e pau a pique.
Decidimos ficar em Sahagún, pois é uma cidade maior, era sábado e merecíamos. Fomos muito sensatos em nossas decisões: vivenciamos o Caminho e não nos estressamos em querer terminar logo.
Chegamos a Sahagún por volta 11h30. Nos hospedamos no Hostal La Bastide du Chemin, localização ótima, quarto pequeno, bem simples, mas com um lençol branquinho e cheiroso.(30 Euros casal)
Hostal La Bastide du Chemin |
Sábado e a cidade estava em festa, pois é dia de feira. É um evento!
Feira em Sahagún |
O almoço foi no Bar do Luis que fica na Plaza Mayor, é uma muvuca. A comida e o atendimento é mais ou menos. A cidade não tem muitas opções.
Bar do Luis - Sahagún |
Sahagún |
Sahagún |
Sahagún |
O engraçado é que assistimos e participamos de um casamento. Com direito a chorar na cerimônia e dançar na porta da igreja com os noivos. Havia uma banda na rua. Foi um dia muito divertido!
Casamento em Sahagún |
18o.dia - De Sahagún até Reliegos - 30,6 Km
Estávamos bem descansados e programamos caminhar 30 Km, só não contávamos que enfrentaríamos chuva e muito vento que nos apanhou durante a caminhada. Para nós foi o pior dia até então, o Caminho foi bem monótono.
Caminho de Sahagún a Reliegos |
Surpresas no Caminho de Sahagún a Reliegos |
Caminho de Sahagún a Reliegos |
Pela primeira vez me perguntei o que estava fazendo caminhando sem parar com frio e dor no pé.
Minha capa de chuva esfacelou toda, tivemos que ficar amarrando para que o pouco que sobrou pudesse me proteger.
Tentando me proteger com o que sobrou da capa de chuva |
O que eu estava procurando? Foi só chegar no Albergue da Ada que descobri o que estava procurando: o carinho com que o Sr Pedro nos acolheu, nos sentimos em casa. Tem mais: cozinhou para nós deliciosos pratos vegetarianos. Enquanto cozinhava ouvia lindas canções espanholas. Jamais esqueceremos o cheiro da comida, as lindas músicas e o quanto fomos amados. O Caminho é assim: anjos aparecem. Sr. Pedro muito obrigada!
Sr. Pedro, um anjo no Caminho. |
O Albergue da Ada (7 Euros por pessoa) é bem novinho e limpo. Ótimos banheiros de homens e mulheres separados. Além de nós, estavam no albergue o irlandes Patrick e a australiana Susi. Jantamos (8 Euros por pessoa) juntos e papeamos muito.
Albergue da Ada |
Espaço de meditação no Albergue da Ada |
19o.dia - De Reliegos até León - 24,1 Km
Dormimos muito bem, atrasamos para sair, pois ficamos conversando com o querido Pedro.
O dia amanhaceu lindo e já estávamos na estrada.
Caminho de Reliegos a León |
Parada para supervisionar os pés |
Caminho de Reliegos a León |
Em León ficamos no Hostal Albany (45 Euros casal) que é ótimo e muito bem localizado Em cidades maiores as hospedagens são mais caras.
Hostal Albany |
Catedral de León |
A Catedral de Léon também é muito linda com vitrais e pé direito majestosos. Visitamos no final da tarde e a luz do sol nos vitrais proporcionou um espetáculo!
A cidade estava lotada, passeamos entre suas estreitas ruas e assistimos à uma linda procissão. Um Sr que coordenava o evento, nos levou para conhecer a igreja e ficou conversando conosco.
Estreitas ruas de León |
Procissão |
À noite fomos à Taberna Los Cazurros que fica no Barrio Húmedo próximo ao hotel. É bom para quem gosta de beber, pois quando você pede uma bebida, ganha um "bocadillo".
Depois passeamos pela noite que estava congelante e a cidade deserta, muito diferente da multidão de turistas no período da tarde.
Taberna Los Cazurros - León |
Catedral León |
León |
20o.dia - De León até Villar de Mazarife- 21,4 Km
Acordamos mais tarde, pois estava chovendo e fazia muito frio. O bom de estar em um hotel é que você pode sair até às 12h, enquanto no albergue o horário é até às 8h. Tomamos um café gostoso na Confitería León.
Confitería León |
Ainda pela manhã visitamos a linda igreja Santo Isidro.
Igreja Santo Isidro |
Igreja Santo Isidro |
Saímos de Léon depois das 11h. O dia estava bem nublado, mas havia parado de chover.
Uma historinha - Uma mulher passou saltitante por nós, estava de mochila, mas não parecia uma peregrina. Após uns 15 minutos, ela veio ao nosso encontro e estava toda esfolada. Conversamos com ela, fizemos curativo e pedimos para que procurasse uma farmácia, pois ela havia levado um tombo na calçada e batido a cabeça. Nos disse que estava tudo bem. Adiante paramos para um lanche e quando voltamos para o Caminho, lá estava ela, mesmo machucada continuava muito feliz. Perguntamos se estava bem e disse que sim. Nos contou que era eslovena e que começou o Caminho naquela manhã . Quando dissemos que éramos brasileiros, ela pulava de alegria e gritava Paulo Coelho!!! Paulo Coelho !!! Juro que não sei se gostava tanto do escritor ou se achava que o Rê era o próprio. *r*
Após 7 Km, chegamos em uma cidade satélite de León, lugar feio. Decidimos seguir o Caminho. A sinalização é péssima e acabamos fazendo o Caminho Alternativo debaixo de uma forte chuva, muito vento e com a eslovena saltitando atrás de nós.
Se tem um trecho do Caminho que pularíamos seria este. De León iria direto para Astorga de ônibus.
No final da tarde, chegamos ensopados no Albergue Tio Pepe em Villar de Mazarife. Fomos muito bem recepcionados pela proprietária, o albergue estava bem cheio. Ela nos levou para o pequeno quarto onde havia duas beliches. Para nossa surpresa, as pessoas que lá já estavam tinham colocado um varal no quarto. Parecia uma favela. Nós dois ficamos parados na porta do quarto só olhando. A dona ficou brava e explicou para eles que havia um outro local mais apropriado para estender as roupas. Desfeita a favela, tomamos banho e ficamos no restaurante esperando a hora do jantar.
Albergue Tio Pepe |
Seguir: Nosso Caminho - do 21o. ao 31o. dia
Muito obrigada por compartilhar estou fazendo o Camino pela segunda vez, nesse momento em Rosesvalles pronta para a proxima etapa. Adorei suas dicas.
ResponderExcluirUauuu!!! Que maravilha!
ExcluirObrigada e buen camino!